O texto não aborda exatamente a cena brasileira de games, mas é um assunto que envolveu a comunidade nacional nesta semana.
A notícia partiu do site Player2. “Loja cede a pressões feministas e retira GTA V das prateleiras”. De acordo com o texto, lojas da rede Target na Austrália tiraram o jogo violento por pressão de uma petição online de 41 mil pessoas que sofreram abuso sexual.
GTA é uma franquia em que você assume um papel de um fora-da-lei que pode roubar carros, matar e andar em um mundo aberto a várias possibilidades. Um dos aspectos do jogo mais agressivos com mulheres que já foram abusadas, e hoje militam pelo feminismo, é que você pode transar com uma prostituta e matá-la dentro do game, como é possível com qualquer outro personagem. De uma certa forma, é uma cultura de agressão ao feminino.
O “mindset”, a mentalidade, de Grand Theft Auto é machista desde sua concepção em 1997, há 17 anos. A crítica válida do jogo é contra a sociedade americana e seu modo de vida do “self-made man”. Fora isso, o game explora estereótipos já conhecidos do bandido.
A série deu uma mudança de ares, para abarcar minorias, somente no DLC Ballad of Gay Tony de GTA IV (2010). O jogo mostrava casas noturnas e personagens abertamente homossexuais, mas nunca se abriu na questão feminina.
Quando GTA teve uma protagonista mulher? Você lembra?
A notícia gerou uma discussão de cerca de 471 comentários nas redes sociais. O cômico do debate é que apenas uma menina se manifestou sobre a proibição na Austrália, ressaltando que é contra a censura do jogo nas lojas mas à favor de um debate mais sério sobre a violência feminina dentro de GTA.
O assunto não é nada novo. Anita Sarkeesian aborda a visão de “mulher como objeto” em seus vlogs. Mesmo assim, os homens insistem em dizer que a questão é secundária no assunto.
Especialmente levando-se em conta a forma como GTA foi criado. Do ponto de vista de game design, para muitos “GTA não vai mudar”.
Não vai mesmo?
GTA não precisa de muito para “se tornar feminista”. Basta talvez não naturalizar a agressão contra a mulher.
Basta, talvez, dar espaço para que as mulheres se identifiquem com alguma heroína dentro deste universo de crime.
A menina que se manifestou durante o debate teve seus argumentos refutados constantemente e sempre por interlocutores homens. Nenhum deles era mal-intencionado e nem a agrediu, mas achei curioso como o mundo masculino sempre encontra meios de se defender.
Inclusive nos videogames.
“é só um jogo”
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Não faz mal nenhum, né?
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Opa, tudo bom? Vi esse debate ontem e fiquei bastante intrigado. Inclusive, a única menina comentando, a Dani, é amiga minha pessoal há um bom tempo.
Eu não consegui acompanhar a discussão inteira porque… bem, eu tinha mais coisas para fazer 😛
O que eu não entendi direito nessa argumentação de um suposto machismo no jogo, é por que a violência à mulher foi mais valorizada que a violência no geral. Digo, aqueles argumentos de “é só um jogo” são bem rasos mesmo, mas, se a gente partir do princípio de que um jogo influencia comportamentos no geral, porque todo o resto da violência no GTA seria relevável?
Por que, dentro do jogo, bater em uma prostituta é tão pior do que socar um velho, roubar um carro ou esfaquear pessoas? Se a gente for partir do pressuposto de que jogos influenciam sim nossos comportamentos e que nem todos têm discernimento para separar a realidade dos videogames, então toda essa violência seria condenável, entende?
Agora se a gente entender GTA como um jogo que não incentiva as pessoas a serem violentas, ou ver tudo só como uma crítica a esses esteriótipos que você cita, a violência com as prostitutas (inclusive não entendi porque destacaram só as prostitutas se no jogo você bate em qualquer tipo de homem ou mulher), entra no mesmo saco.
O meu ponto é: a violência em GTA é generalizada. Então ou ela é condenável como um todo ou não é condenável em nenhum aspecto particular. Nesse caso específico, separar as questões femininas só me parece ilógico.
Em tempos: eu super concordo que há muito a se avançar nas questões de gêneros dentro dos videogames, principalmente em termos de representação feminina nos personagens e todos os preconceitos que lá ficam esteriotipados.
Eu também não acho que “um jogo é so um jogo”. Mas esse debate do até onde ele nos influencia é extremamente longo e ainda inconclusive né. Inclusive, acho que GTA ajudou muito a “esticar os limites” dos jogos.
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Concordo contigo, Kaluan, mas acho que GTA há muito tempo se repete em suas temáticas. Talvez ele tenha uma oportunidade de dar uma pequena mudada, como fez em Ballad of Gay Tony.
Mas, como falei em discussões, meu texto é pra levantar mais dúvidas do que ensinar a Rockstar a fazer jogos. Eles sabem o que fazem.
Abraços!
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