Fundada em 2009 e com cinco anos de atividade, o Behold Studios está fazendo história na cena brasileira de jogos com títulos de qualidade e muita história para contar. Vindos de Brasília, eles recentemente anunciaram o jogo de tabuleiro Gladiadores de Belathron. Participam da Brasil Game Show (BGS) desde 2010. Os brasileiros também fizeram sucesso com a aventura de RPG retrô Knights of Pen & Paper, que chamou atenção no Steam e nos celulares em 2012. Mas sua história mais marcante viria com Chroma Squad, anunciado em julho de 2013. O game foi notificado com uma possibilidade de processo pela produtora norte-americana do seriado Power Rangers, a SABAN. O argumento para acioná-los juridicamente? Plágio.
Houve plágio?
Chroma Squad foi anunciado como um projeto para financiamento aberto. O Behold Studios abriu um crowdfunding no Kickstarter para juntar 55 mil dólares, ou 138 mil reais. A empresa de Brasília conseguiu se financiar com pouco mais de 97 mil dólares (244 mil reais). Foi um sucesso absoluto a ideia de um jogo que coloca você na simulação de um seriado de super sentais japonês, de heróis com uniformes coloridos, para conquistar audiência. O enredo do game brasileiro se apoia na paródia e em combates de turnos contra monstros. O jogo tinha previsão para chegar ao grande público em dezembro de 2013, com uma versão beta em outubro.
O nome principal por trás do Behold Studios é o de Saulo Camarotti (28), que é o diretor-executivo da empresa de Brasília. Ele joga videogames desde os 12 anos de idade e teve uma oportunidade de ouro em novembro 2013: Mostrar seus jogos para conquistar um espaço nos consoles da Sony. As reuniões ocorreram durante a BGS daquele ano, envolvendo outras 18 companhias brasileiras: BitCake Studio, Corbett Software, Deep Knight Games, Diamond Dogs, Everywhere Mobile, Fire Horse Studio, Harpa Game Studio, Hoplon, Ilusis, JoyMasher, Jynx, PetitFabrik, Pixel Snack, QUByte, Rockhead, TotenDev e Vortex Game Studio. Eles receberam kits de desenvolvimento para se aventurar no console PlayStation 4 e no portátil PS Vita.
“Mostramos a eles o Knights of Pen & Paper, que é sucesso nos smartphones e no Steam, além dos prêmios que ganhamos com ele. Mas também mostramos o nosso novo projeto Chroma Squad, além de nossa intenção de lançar uma versão para os consoles, inclusive da Sony”, me disse Camarotti na época, em 2013. Sua exibição deu certo, pois o novo jogo, além de ter sido lançado para PCs, chegou na BGS 2014 com uma versão no PS4.
Mas o problema surgiu. No dia 18 de julho de 2014, começaram a circular rumores na internet de que a produtora SABAN estaria processando os brasileiros do Behold Studios por conta da similaridades entre o esquadrão do Chroma Squad e os super sentais japoneses. A SABAN é a representante americana da Toei Company, empresa japonesa que criou seriados famosos como os Power Rangers. O processo, no entanto, não passou de uma ameaça. Mesmo assim, Saulo Camarotti e os desenvolvedores mantiveram silêncio sobre o caso, pelo menos em entrevistas com a imprensa. Tentei, na época, falar com Marcos Venturelli, da Rogue Snail, que trabalhou com Camarotti no desenvolvimento de Chroma Squad. Todos se recusaram a comentar o caso para evitar maiores problemas.
A caso só foi revelado em maiores detalhes em outubro e as duas empresas entraram num acordo sem prejuízo para o desenvolvimento do Chroma Squad, tanto na plataforma PlayStation quanto na versão de PC. A empresa brasileira não sofreu um processo de fato.
Houve plágio? O Behold Studios tentou copiar a SABAN ou a criação da Toei? Não, não houve. Chroma Squad é uma paródia com seriados de super sentai. Em nenhum momento Power Rangers traz personagens que lutam por audiência na televisão. O seriado popularizado nos Estados Unidos com figuras japonesas tentava se levar a sério e mostrava uma transformação de cada um dos heróis com roupas coloridas. O Behold tentou transformar este enredo em um simulador de programa televisivo. A paródia é um gênero que fica na releitura cômica, sem infringir direitos autorais e nem citando a obra original de uma maneira ofensiva. Há similaridades entre Power Rangers e Chroma Squad apenas no terreno da estética, porque, no fim, tratam-se de obras com objetivos completamente distintos.
E o futuro?
Entre as empresas do “pavilhão indie” da BGS 2014, o Behold Studios teve uma excelente exposição no estande da Sony, tanto com uma apresentação no palco sobre Chroma Squad quanto fornecendo informações para jogadores interessados no evento. Aparentemente a ameaça de processo não comprometeu a divulgação e o desenvolvimento do game brasileiro.
A empresa de Brasília agora tenta voos mais altos. Eles estiveram divulgando Chroma Squad no Game Developer Conference (GDC) 2014, dentro do Indie Mega Booth, em março deste ano. Neste próximo mês, o Behold Studios estará no PlayStation Experience, evento que ocorrerá entre os dias 6 e 7 de dezembro em Las Vegas, nos Estados Unidos. A companhia nacional ganhou espaço como um representante do Brasil junto com uma desenvolvedora de peso japonesa que é a Sony.
O Behold Studios foi notificado de processo pela produtora dos Power Rangers e sobreviveu. Os boatos e o excelente trabalho de Saulo Camarotti e de sua equipe, formada pelo time de programação de Guilherme Mazzaro, Leonardo Prunk e Leonardo Leite, além dos artistas Hugo Vaz, Betu Souza e Bruno Briseno, divulgaram o game.
Para o sucesso do jogo Chroma Squad, o céu agora é o limite.
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