Reportagem

Há algo de diferente na cena gaúcha de games

Estive, entre os dias 11 e 15 de novembro deste ano, em Porto Alegre para cobrir a SBGames 2014. Na capital gaúcha, conheci a história da ADJogosRS através de Ivan Sendin, seu diretor-executivo. A Associação de Desenvolvedores de Jogos Digitais do Rio Grande do Sul está fazendo algo de diferente na cena brasileira de games. Explico os motivos neste texto.

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A ADJogosRS é formada pelas empresas gaúchas que criam jogos. Entre elas está a Swordtales, famosa pelo game Toren, que está em desenvolvimento há quatro anos e recebeu incentivos do governo federal em sua criação. O diretor de arte deles, Alessandro Martinello, é um desenvolvedor de games com quem tive desentendimentos na época do BIG 2014 em abril deste ano.

Alessandro argumentou que eu divulguei textos naquela época que não condiziam com a riqueza de games do festival naquela época. Argumentei que tinha feito determinado artigo apenas para introduzir as pessoas sobre o tema, e meu objetivo não era cobrir o BIG. Os humores ficaram esquentados e ficamos sem conversar por algum tempo.

No entanto, considero essas divergências saudáveis. Jornalista e suas fontes não são necessariamente amigos e isso faz parte do bom exercício da imprensa. O repórter deve ser independente para afirmar o que bem entender, ao mesmo tempo em que as fontes têm todo o direito de cobrar explicações sobre o jornalismo que é praticado na sociedade.

A SBGames, então, foi uma oportunidade de eu conhecer pessoalmente Alessandro Martinello e seu trabalho. Reatamos o papo e ele me explicou melhor sobre a ADJogosRS, que está fazendo um trabalho diferente na cena brasileira de games. Ele endossou informações que foram concedidas pelo Ivan Sendin.

O que os gaúchos têm de diferente?

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Carlos Henrique Pires Idiart, Israel Mendes, Ivan Silveira, Cássio Saldanha, Vitor Severo Leães, Felipe Peruzzo, João Vitor de Souza, Marsal Alves Branco e Rafael Rodrigues foram os fundadores da ADJogosRS. Destes, Israel Mendes é co-fundador do Aquiris Game Studio, uma das maiores companhias do setor e que recebeu um aporte de 10 milhões de reais neste ano. Já Vitor Leães é produtor da Swordtales junto com Alessandro Martinello, responsável por Toren.

A ideia por trás da ADJogosRS é totalmente diferente das demais associações presentes na cena. A Abragames nasceu em 2004, fruto de um diálogo entre desenvolvedores de São Paulo e Minas Gerais, para representar nacionalmente o setor. Atualmente, eles exportam jogos via Brazilian Game Developers (BGD). Já a ACIGAMES surgiu em 2010 na cidade de São Paulo para representar o varejo, apesar de também investir na cultura de videogames brasileira. Em uma vertente completamente diferente a IGDA e suas filiais regionais trazem as discussões da organização sem fins lucrativos que surgiu originalmente nos Estados Unidos.

O diferencial da ADJogosRS é apostar no regional ao invés do nacional ou mesmo do internacional.

“A associação existe oficialmente desde maio de 2013. Tivemos um workshop oferecido pelo governo da associação gaúcha de desenvolvimento e investimento. Foi a primeira vez que as empresas daqui se reuniram. Éramos quatro ou cinco e decidimos fomentar e formar uma organização, com estatuto próprio”, me explicou Ivan Sendin, o diretor. A formação do grupo permitiu que eles participassem da SBGames, sobretudo na curadoria de jogos. Isso transformou um evento tradicionalmente acadêmico numa grande reunião de apresentação da cena gaúcha de games.

A união não é por acaso. O primeiro curso de graduação do Brasil é da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), que surgiu em 2004. A região também é atendida por cursos da PUC-RS, da UniRitter e da Universidade Feevale. Essas instituições tanto formam os especialistas quanto oferecem educação de pós-graduação para quem deseja se aprofundar no setor.

O Dash

“Também apostamos em eventos como o Dash. Nosso pensamento foi que temos apenas três grandes feiras no Brasil: O BIG Festival, a BGS e a SBGames. Eles são ótimos eventos, mas são realizados essencialmente por empresários. O BIG e a BGS são obras de executivos, enquanto a SBGames foi organizada pela Sociedade Brasileira de Computação (SBC). Nenhum dos três é feito pelo desenvolvedor”, frisou Ivan Sendin, embora sua associação tenha contribuído para o simpósio realizado em Porto Alegre.

A ADJogosRS quer dar maior poder aos desenvolvedores, fazer as coisas da maneira que eles querem. O Dash Games seria um espaço para que ele veja o que quer e mostre o que precisa ser exibido através de seus jogos. Desta forma, a associação precisa investir regionalmente para entender quais são as demandas do mercado local. Ivan busca incentivos fora do Brasil, mas em países próximos, como a Argentina. A associação quer crescer localmente e buscar relevância na América Latina, sem competir com BIG, BGS ou SBGames.

O que dá pra entender sobre isso?

“Um dos nosso desafios é fazer o desenvolvedor parar de enxergar a associação como um problema. Não queremos isso pra ADJogosRS, porque a nossa pegada é indie e direta com o criador de jogos, de uma forma que ele se entenda. Todo mundo confraternizou aqui na SBGames. Queremos encurtar caminhos, fazer bons negócios e deixar a cena crescer. É uma troca de ideias próxima. É diferente”, complementou Ivan Sendin.

Se a ideia é real da ADJogosRS é essa, são projetos bem intencionados, bem menos pretensiosos e consistentes. Ivan também me contou que enxerga o papel de uma associação como um “pai” das empresas mais necessitadas.

Dar segurança às pequenas empresas de games digitais é o que o mercado mais precisa ultimamente. São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e diversos cantos do Brasil tem muito a aprender com essa iniciativa dos gaúchos.

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*Pedro Zambarda viajou para Porto Alegre a convite da ADJogosRS

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6 comentários sobre “Há algo de diferente na cena gaúcha de games

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